Funk abre exposição e divide opinião de fãs do Museu de Arte do Rio

Curador fala de Tequileiras do Funk: 'Incentiva mulher a ser dona do corpo'.
Internautas discutem escolha; dançarina diz que 'surra de bunda' é arte.
O show do grupo paulista Tequileiras do Funk marcado para esta terça-feira (15), em evento de abertura de uma exposição do Museu de Arte do Rio (MAR), provocou discussão entre fãs na página da entidade no Facebook. A apresentação das Tequileiras, conhecidas pela dança "surra de bunda", vai acontecer no Cabaret Kalesa, no centro do Rio, na festa de inauguração da exposição "Josephine Baker e Le Corbusier no Rio – Um Caso Transatlântico".
A exposição do MAR é baseada no encontro no Rio, em 1929, do arquiteto suíço Le Corbusier com a dançarina, cantora e atriz norte-americana Josephine Baker. "Em sua época, Josephine subverteu questões ao lidar com o jeito que percebemos gêneros, orientação sexual, classe e especificamente raça. O convite às Tequileiras para o evento de abertura ocorreu porque, no contexto brasileiro atual, vemos um espírito similar na manifestação delas", explica ao G1 um dos curadores, o colombiano Carlos Maria Romero.
O anúncio do evento na página para fãs do MAR no Facebook deu início a comentários negativos na rede social. "Caso eu quisesse ver algo desse tipo, iria a um baile funk", argumentou uma das participantes da página. "Empoderamento? Fala sério, exploração sexual da figura feminina. Cada dia mais vulgarizada", diz outro comentário. Após as críticas, outros participantes defenderam o evento. "Chocante é a visão estreita de cultura desses 'envergonhados'. Lamentável! Viva as tequileiras! Todo apoio a essa linda e democrática iniciativa do MAR", diz um dos defensores
Tequileira estreia para museu
A experiência é inédita para as funkeiras. "É a primeira vez que a gente está fazendo uma apresentação para um museu de arte. O pessoal aqui é dez", elogia a animada Débora Fantine, uma das Tequileiras do Funk. Ela tem 27 anos e mora em São José dos Campos (SP).

Perguntada se ela considera que a "surra de bunda" também é arte, Débora não hesita: "Lógico que é!", diz. Ela concorda com a opinião do curador, que compara o seu trabalho à postura pioneira de Josephine. "As mulheres têm que ser livres. Um homem vai na balada e 'cata' 10 mulheres, e a mulher que faz o mesmo é uma biscate. Tem que ter direitos iguais para todo mundo", diz.
'Empoderamento feminino'
O perfil oficial do Museu no Facebook entrou na discussão e publicou: "A exposição 'Josephine Baker e Le Corbusier no Rio" discute questões de gênero, raça e formalidade nas artes. Hoje, dia de abertura, sairemos do nosso espaço expositivo e vamos ao Cabaret Kalesa para colocar em pauta as relações com o gênero e o comportamento feminino. A música do grupo discute o empoderamento feminino, ao performar uma inversão das relações de dominação entre homens e mulheres. É um momento em que o Brasil discute intensamente o assunto".

Josephine e Le Corbusier são descritos como personalidades de vanguarda no texto oficial da exposição do MAR. "Foi a primeira estrela negra da dança mundial, e subverteu os padrões de seu tempo com o corpo nu e coreografias de movimentos selvagens e anárquicos". "Ela também foi controversa", diz Romero, ao compará-la com as Tequileiras do Funk. Ele elogia a postura feminista do grupo brasileiro e a discussão que ele provoca sobre "mulheres serem donas de seus próprios corpos".
'Marretar o bumbum'
Em 2010, a "surra de bunda" também foi alvo de discussão no site norte-americano Gawker. "O Brasil, lar dos traseiros mais célebres do mundo, inventou uma nova dança. É a chamada 'Surra de bunda', em que uma mulher apoia seus pés sobre os ombros de um homem para, em seguida, marretar o bumbum em seu rosto", descreveu Maureen O'Connor, no Gawker.

A dança foi popularizada no Brasil pelas Tequileiras do Funk Beatriz Fantine, Claudinha Vulcão e Débora Sabatine. Vestidas com roupas sensuais, elas costumam convidar pessoas da plateia para participar da coreografia em cima do palco, ou mesmo em um balcão de bar.


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